quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Resumo do período do Renascimento.

Considerações sobre o período do Renascimento

Chegou-se ao consenso de que o período do Renascimento começou no sec. XIV e se expandiu para a Europa nos séculos XV e XVI. Sabe-se, além disso, que o seu berço foi a cidade italiana de Florença, capital da Toscana, na época governada pela família Medici.
Pôde-se constatar que o Renascimento foi um movimento histórico que se destacou pelas suas manifestações internas que objetivavam a retomada de valores clássicos nas mais diversas áreas do viver europeu. E, nesse sentido, precede um período cujos ideais eram-lhe antagônicos, pois se por um lado o Renascimento visava essa revisão de valores da antiguidade, a modernidade ambicionava o novo, o desconhecido, e com isso o progresso.
Segundo DELUMEAU (1923), em “A civilização do renascimento”, o Renascimento é um período de luz, que veio iluminar a herança dos Medievais, sendo assim um período de Luz que vem iluminar o que restou do período tão chamado de trevas. Esse período de luz representou uma ressurreição das letras e artes gregas e romanas. Fazendo, dessa forma, com que a Italia se tornasse um pais de vanguarda na promoção do ocidente para o restante do mundo. Isso se deu através dos seus humanistas, artistas, homens de negocio, engenheiros e matemáticos.
KOYRÉ (1892-1964), por outro lado, em uma comunicação de 1949 intitulada de ”O aporte científico da renascença”, afirma que pensar em uma contribuição cientifica advinda do Renascimento pode parecer uma quimera. Afirma, ainda que a Renascença se tratava de uma Idade Média enriquecida e ampliada, tamanho era o obscurantismo que circulava nesse período. Diz que esse período não cumpriu um ideal de ciência, mas de retórica. Desse modo, não pode ser considerado um renascimento da ciência. Do mesmo modo, o humanismo que dele resulta não pode ser considerado uma corrente filosófica, mas um movimento intelectual que pretendia recuperar autores clássicos. Ainda segundo Koyré, o obscurantismo do renascimento era refletido na superstição predominante na magia, alquimia, bruxaria e cabala – em suma, um saber hermético. A astrologia estava mais presente no cotidiano dos cidadãos dessa época do que a astronomia heliocêntrica de Nicolau Copernico (1473-1543).
Nunca um período foi responsável por tantas invenções: três invenções se destacam no Renascimento, a imprensa, a pólvora e a bússola.
Em 1518,  o humanista Ulrich von hutten (1488-1523) diria: “ó Século, ó estudos, viver é um prazer”. Para os representantes da corte italiana, a forma de arte que mais merecia respeito era a Arquitetura. Foi inclusive nesse período que surgiram os primeiros tratados sobre arquitetura, e com eles, as primeiras concepções de urbanismo. Um dos maiores expoentes dessa arte foi Filippo Brunelleschi (1377-1446). Projetista da catedral de Florença, único tido como capaz de cumprir tal tarefa. Seu objetivo era o de fazer renascer a imponência das grandes construções romanas. Ele próprio viajou até Roma para estudar edificações palacianas e templos, mas o que desejava era criar novas edificações romanas. Além de Brunelleschi, se destacaram Lorenzo Ghilberti (1378-1455) e Donatello (1386-1466), assim como Donato Bramante (1444-1514). Esse último, recebeu do Papa Julio II a missão de erguer, no local onde São Pedro estava enterrado, o templetto (pequeno templo) aos moldes da arquitetura clássica. Brunelleschi ainda influenciaria Leon Battista Alberti (1404-1472) que projetou o palácio Rucellai, por exemplo. Em seu tratado sobre arquitetura, Battista disse:
“No início, quando os homens buscavam um local onde pudessem repousar em segurança [...] desejando, ainda, que as atividades domésticas e individuais fossem conduzidas em espaços distintos, ou seja, que o local de dormir fosse apartado do local do fogo e que ao mesmo tempo, cada espaço tivesse sua própria função; o homem projetou um telhado para proteger-se da chuva e do sol”.

Além de Battista, Antônio Filarete (1400-1469) também escreveu sobre arquitetura:
“Deve-se supor que quando Adão foi expulso do paraíso estava chovendo, como não possuía um abrigo a disposição, ele colocou suas mãos acima da cabeça para proteger-se da chuva”.
A lista de pintores desse período é extensa. Poderíamos citar Sandro Botticelli (1445-1510), Jan van Eyck (1390-1441), Caravaggio (1571-1610), mas há um trio que se destacou mais, tanto pela sua técnica como pelo seu talento, são eles: Leonardo Da Vinci (1452-1519), Michelangelo Buonarrati (1475-1564) e Rafael Sanzio (1483-1520). Leonardo, além de pintor, foi um exímio anatomista, engenheiro, músico e arquiteto. Posteriormente, perceberíamos que ele empregava a sequência de Fibonacci em suas obras, a conhecida regra de ouro. Entre suas obras mais conhecidas estão a Santa Ceia e a Gioconda. Michelangelo foi escultor e importante pintor. Como ainda via-se preso aos valores da Idade Média pelos valores ainda vigentes, foi responsável pelo gênese Bíblico e do Juízo Final, na Capela Sistina. Entre suas melhores demonstrações enquanto escultor, encontramos Davi e Pietra. Por sua vez, Rafael se destacaria pela pintura das suas muitas madonas, ou, pinturas da virgem Maria. De maneira similar a Michelangelo, ele ainda sofre da influência do Medievo. Ainda hoje, suas pinturas são objetos de decoração para o Vaticano (Estado pontifício católico).
A pintura do Renascimento é denominada por especialistas de Quattrocento, e se caracteriza pela pintura a óleo, pela aplicação de técnicas de perspectiva, de regras de redução das dimensões, sistemas de linha de fuga, e pela escolha do ponto de fuga único. Sofrendo influência do espírito cientifico da época, a arte nesse período buscou o racional figurativo e a fidelidade da representação como propósitos de imitação do real. O sistema Quattrocentista de linhas de fuga pôs fim ao sistema medieval de compartimentação e abriu caminho para um novo tipo de pintura. Esse novo sistema aplicou as leis de perspectiva linear de Euclides, estabelecendo pontos de coordenadas geométricas e escolheu um ponto de fuga único no fundo dos quadros. Apenas gradualmente foi-se abandonando os temas convencionais herdados dos medievais na expressão artística. A primeira geração de artistas do Renascimento: (Mosaccio, Masolino, Angélico) foi se adequando às novas técnicas, assim como a segunda: (Ucello e Donatello), para que a terceira pudesse usufruir dos avanços nessa área. A mudança de valores sociais da época influenciaria o novo estilo plástico Quattrocentista: se antes, Deus e a natureza eram constantemente representados, agora havia a distinção entre moral e o belo, e, da valorização antropomórfica.
Por outro lado, ao que diz respeito às letras e com isso aos conceitos, em especial ao conceito chave para compreensão do Renascimento: o humanismo; temos Francesco Petrarca (1304-1374) como primeiro teórico a falar sobre isso. Um dos efeitos do uso desse conceito em sociedade foi o a diminuição do preconceito contra a mulher, o que significou menos hostilidade ao amor do lar - uma publicação que explicita um aumento do respeito pela mulher é de Cornelius Agrippa (1486-1535) De Nobilitate e Praecellentia Foeminei Sexus - onde defende a superioridade do sexo feminino. Dessa forma, o cristianismo viu-se diante de uma nova mentalidade, mais complexa e de aspiração a uma cultura mais laica, com o desejo de integração entre a vida, a beleza e a religião. Um cristianismo rejuvenescido, por assim dizer.
Os manuais que circulavam na época tinham, ao mesmo tempo, informações sobre os mais variados temas: de receitas culinárias à reflexões metafísicas. As obras acerca desse conteúdo hermético eram as que faziam mais sucesso nas livrarias. A magia, teorizada e praticada por pensadores como Giordano Bruno e Tomás Campanella era essencialmente vinculada ao milenarismo e aos anseios de uma reforma da cultura e da vida politica e social. Tal hermetismo já existia antes da idade média: Marsilio Ficino traduziria em 1463 um material do sec. II d. C. chamado “corpus hermeticium”. Esse material tem a autoria atribuída ao Deus egípcio Hermes Trimegistro, que, segundo a lenda, foi mestre indireto de Pitágoras e Platão. Foi depois dessa publicação que a magia ganhou força nos séculos XV, XVI e XVII. Considerando esse plano de fundo do renascimento, é possível entender melhor porque Nicolau Copernico cita Hermes Trimegistro em sua defesa da teoria heliocêntrica. Além dele, Francis Bacon (1561-1626), Kepler (1561-1630), Issac Newton (1642-1726), Descartes (1596-1650), Leibniz (1646-1716) também seriam influenciados pelo saber hermético difundido na renascença.

No renascimento, o pensamento filosófico passou a intensificar o dilema ”É a filosofia serva da teologia?” Os impactos das traduções de obras filosóficas na época acabaram por causar um movimento denominado de ceticismo cristão, ou fideísmo cético, resultado do conflito entre fé e razão: dado a incerteza da ciência e do saber como um todo, deveriamos ser orientados pela Bíblia, pois essa era a mais segura forma de conhecimento. Richard Popkin (1923-2005) chamou isso de “crise cética no Renascimento”.

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