Pretende-se, a partir do texto “Introdução à História da Filosofia”, de GWF Hegel no qual se explicita questões segundo as quais entende a história e a própria Filosofia. No presente trabalho, irei ainda tratar dos objetivos da filosofia enquanto ciência que apreende a verdade (ideia) em desenvolvimento, bem como a ciência que pretende estuda-la enquanto registro histórico, o qual, segundo Hegel é idêntico ao estudo da própria filosofia. Além disso, apresentarei a grande desvantagem da filosofia com relação às demais ciências. Da mesma forma, apresentarei críticas feitas por Hegel quanto às formas superficiais de se fazer história da filosofia. Tratarei também da maneira a qual Hegel entende a diversidade das filosofias, sua dinâmica de refutação, assim como o que propõe o filósofo quanto ao problema que se instala quando todas elas se dizem verdadeiras. Não obstante, explicarei porque, segundo o autor, a filosofia é uma ciência que se nutre da sua história, assim como aquilo que a unifica segundo a noção hegeliana de filosofia e história da filosofia. A obra analisada “Introdução à história da filosofia” foi compilada a partir das anotações feitas por seus alunos e fora publicada postumamente.
A história da Filosofia, segundo Hegel, é também ciência da Filosofia. Esta objetiva entender o que é imutável, e o que, aliás, a unifica, isto é, a história da filosofia é unificada pela imutabilidade da verdade (ideia) ; contraditoriamente, o que é imutável não possui história. Sobre isso Hegel afirmou:
De fato, verificamos ser eterna a verdade: não cai no âmbito do que passa, e por isso não tem história. Mas se por outro lado, tem história. Uma vez que essa história não é mais do que a representação duma série sucessiva de formas passadas de conhecimento, a verdade não pode encontrar-se nessa sucessão histórica, porque a verdade não é coisa que passa. (p. 333)
Assim, sendo a verdade aquilo que caracteriza o pensamento filosófico, este não poderia possuir uma história. Uma vez que a “verdade não passa”, Hegel faz uma analogia entre o pensamento filosófico (verdadeiro por definição) e o pensamento cristão, o qual adotou de maneira aparentemente similar uma verdade, ou revelação imutável que é a chave para a compreensão da sua doutrina, isto é, do seu conteúdo interno determinado, ou por sua falta de história interna.
Ainda sobre a verdade Hegel explica que enquanto determinada em si mesma, apresenta a tendência para desenvolver-se, dessa mesma forma, a ideia, concreta em si mesma e é um sistema orgânico. Assim, a filosofia por si (em ato) é o conhecimento desse desenvolvimento. A verdade é esse desenvolvimento pensante; dessa forma, a filosofia constituiu-se de si mesma: Todas as suas partes e sistematizações emanam de uma única ideia em desenvolvimento.
A Filosofia se nutre da sua história, pois é a partir do estudo dela que resultará a sua demonstração e verificação enquanto sendo em si mesma verdadeira. Assim, o estudo da história da filosofia é o estudo da própria filosofia. Ela é, pois, dependente do seu tempo lógico, isto é, da sua história enquanto história da filosofia.
Para reconhecer a forma e a aparência empírica, na qual a filosofia se manifesta historicamente, o seu processo como desenvolvimento de uma ideia, importa possuir conhecimento da ideia, assim como devemos possuir o conhecimento das regras das proposições lógicas para determinarmos sua validade lógica, por exemplo.
Segundo Hegel, só uma história da filosofia considerada como sistema de desenvolvimento da ideia, que é uma sucessão de fenômenos que se organizam por meio da razão e que tem como conteúdo precisamente aquilo que é a razão e que a revela, merece o nome de ciência. Ora, a história da filosofia que se apresentar como galeria de opiniões não deve, portanto, ser levada a sério.
Enquanto a possibilidade de uma história da Filosofia, se for analisada sua história exterior, ela mostrará uma origem, uma difusão, um ponto culminante, sua decadência e seu renascimento, além da história dos seus mestres, autores e adversários. No que diz respeito a sua história interior, a filosofia não trabalhou com um conteúdo de verdade imutável desde o princípio. É claro que as filosofias que se pretenderam entender a natureza do mundo o entendiam de maneira que seus conteúdos fossem verdadeiros, mas logo isso foi se mostrando ineficaz, logo a filosofia não se tornaria a ciência de uma única verdade absoluta, e sim de um campo onde debater uma ideia é mais válido do que sentencia-la. Platão, por exemplo, usa diálogos para demonstrar que não é possível fazer o que entendemos hoje por filosofia sem o conhecimento de interpretações filosóficas precedentes e sem alguém com um ponto de vista divergente para indagar acerca da verdade que atribuímos às ideias.
A história da filosofia não seria senão um campo de batalha coberto somente dos restos mortais dos filósofos (seus desenvolvimentos da ideia): cada um matou e sepultou o precedente. Cada nova filosofia sustenta que as outras nada valem. Cada filosofia se ergue com a pretensão não somente de refutar as filosofias precedentes, mas de corrigir os defeitos e de suprir imperfeições delas e de ter, finalmente, encontrado a verdade. Ora, será que se encontrarem a verdade, haverá ainda filosofia?
Quanto à diversidade das filosofias, Hegel diz que somente uma filosofia pode ser verdadeira, tendo em vista que a verdade é apenas uma. No entanto, enfatiza que cada uma delas prova sua veracidade:
Se assim é, só uma filosofia pode ser verdadeira; mas uma vez que na realidade são diversas, dai se deduz que o restante delas são errôneas: sucede, porém que cada uma por seu turno, assevera, sustenta e prova ser ela a verdadeira. (p. 339)
As filosofias têm em comum o fato de que são filosofias. Quem estudou uma delas, compreendeu a filosofia: o conhecimento filosófico da verdade nos faz compreender a diversidade, que é essencial à filosofia e a sua possibilidade, que trabalha na medida em que uma filosofia, dita verdadeira, substitui a sua precedente no quesito “desenvolvimento de uma ideia”. Essa ideia é a verdade em seu desenvolvimento. É essencial a essa verdade que chegue a compreensão de si mesma. É assim que deve se tornar aquilo que é.
Qual seria, então, o objeto de estudo da filosofia? de acordo com o que Hegel diz no primeiro parágrafo da enciclopédia das ciências filosóficas, a filosofia não tem a vantagem de que gozam as outras ciências, de poder pressupor seus objetos como imediatamente dados pela representação, como a física, que estuda as leis da natureza, por exemplo. A filosofia não pode pressupor seu objeto. Isso indica que ela própria (a filosofia) dê a si mesma seu objeto interno e não externo. Sendo que esse mesmo objeto é o pensar pelo pensar até que tal objeto se torne conceito.
Sobre a meta da filosofia Hegel nos diz que:
Em sentido mais profundo, e o ponto de partida é também a meta da filosofia o reconhecer esta única verdade como forma donde deriva tudo o mais, isto é, as leis da natureza, todas as manifestações da vida e da consciência de que aquelas são apenas reflexo; ou então, numa direção perfeitamente oposta, reconduzir todas estas leis aquela única fonte, com o fim de ficar a compreender como é que delas derivam. (p.340)
Como a filosofia é um sistema em desenvolvimento, nos diz Hegel, também o é a história da filosofia. A maneira como se dá esse processo, de representar a derivação das formações, assim como a pensada e reconhecida necessidade das determinações é a missão da própria filosofia, mais precisamente da filosofia lógica. A sucessão dos sistemas da filosofia é idêntica à sucessão na educação lógica das determinações conceituais da ideia.
Hegel sustenta que, despojando os conceitos fundamentais que aparecem na história da filosofia, de tudo o que diz respeito à formação exterior dos mesmos e a sua aplicação ao particular e assim por diante, se obtêm os vários graus da determinação da ideia no seu conceito lógico: “Poder-se-ia pensar que a filosofia nos graus da ideia devesse ter uma ordem diversa daquela segunda a qual tais conceitos sugiram no tempo; mas no conjunto a ordem é idêntica”. (p.347)
Segundo o filósofo, a prova da inutilidade da filosofia é imediatamente fornecida pela habitual superficialidade com que tratam a história da filosofia que, no seu desenvolvimento, se manifesta como alteração dos mais variados pensamentos, de multiformes filosofias entre si antagônicas, que se contradizem e que se refutam continuamente. Hegel ainda critica a história que mostra uma filosofia como um conjunto de opiniões, erros e jogos do pensamento. Duvida, assim, que os responsáveis pelas coleções de pensamentos aleatórios (os historiadores) fossem capazes de compreender e de expor um conteúdo que é o pensamento racional.
Contudo, o texto está estruturado sobre a noção hegeliana de história da filosofia e teve por objetivo esclarecer alguns pontos nevrálgicos a fim de demonstrar a compreensão de uma leitura ainda ingênua desse filósofo conhecido como “o obscuro”. Reconheço, assim, que o tema precisa ser reestudado para uma melhor reprodução das ideias nele presentes.
Referências:
HEGEL, G.W.F. Introdução à história da filosofia. Tradução sob licença de: Guimarães Editores, Lisboa. Ed Abril Cultural (Os pensadores). São Paulo, 1974.
MENK, Tomás Farcic. O que Hegel entende por ciência? . In:
MUITO BOA SUA RESENHA, PARABÉNS!!!
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