Na parte
II, de Mal-estar na cultura, Freud levanta uma questão: qual a
finalidade da vida para o homem? Encara o problema então sob a
concepção da busca pela felicidade e evidencia os seus entraves.
O
homem comum entende sua religião como finalidade da sua vida, sua
doutrina e suas promessas de compensação da vida numa vida do além
são seu norte. Pensando como um humanista, Freud acha doloroso
pensar que a maioria dos mortais nunca se elevará acima dessa
pespectiva.
Apesar disso, apenas a religião contém a resposta para a finalidade
da vida do homem.
A
vida, para Freud, nos traz muitas dores, desilusões e tarefas
insolúveis. Para suportá-la, construções auxiliares são
necessárias e fazem a vida funcionar, ele destaca três tipos dessas
construções auxiliadoras da difícil vida: distrações poderosas
que nos façam desdenhar nossa miséria, satisfações substitutivas
que a amenizem e entorpecentes que nos tornem insensíveis a ela.
Freud exemplifica a atividade cientifica como tipo de distração e a
arte como satisfação.
5.
Freud substitui a pergunta, e faz outra que julga ser mais modesta: O
que os homens almejam alcançar na vida? – responde então que é a
felicidade. Por um lado almejam a ausência de dor e desprazer e por
outro querem viver sensações intensas de prazer. Mas felicidade,
literalmente, refere-se apenas ao segundo tipo citado.
Assim, o sentimento de felicidade, enquanto finalidade da vida, está
diretamente ligado ao principio
do prazer,
e é estritamente irrealizável, pois esta em conflito com o mundo
externo. Somos, segundo S. Freud, feitos de tal modo que podemos
gozar muito mais do contraste do que do estado pleno. Muito menores
são os obstáculos para experimentar a infelicidade.
O
sofrimento ameaça de três lados: do próprio corpo, do mundo
externo, e das relações com outros seres humanos em sociedade. Essa
última sendo a mais dolorosa.
8.
Freud cita um método de obtenção da felicidade, que diz que é
escapando da infelicidade e se afastando do mundo externo. Há outro
modo: atacar a natureza com a ciência, influenciando o organismo e
intoxicando-o.
Freud
analisa a forma de prazer provindo da arte e diz que: “a
suave neurose em que a arte nos coloca não capaz de produzir mais do
que uma fugaz libertação das desgraças da vida, e não é forte o
bastante para esquecer a miséria real.”
(p. 71)
Freud então cita outro procedimento e afirma que o único inimigo é
a realidade, sendo necessário cortar todos os laços com ela para
ser feliz em algum sentido. E dá o exemplo do eremita, que dá as
costas para o mundo real. Ainda é possível ainda transformar o
mundo, e querer construir outro mundo melhor em seu lugar.
Cada
um de nós, segundo Freud, age como um paranoico, corrigindo a
realidade. E caracteriza a religião como delírio desse tipo. (quem
adere ao delírio, nunca o reconhece como tal).
Freud então fala do amor enquanto método de obtenção da
felicidade: amar e ser amado. E cita o amor sexual como forma de
prazer avassalador. Por outro lado jamais sofremos tanto do que
quando perdemos o amor, o que nos mostra que estamos desprotegidos
quando amamos. Contudo, isso não desmerece o amor como fonte de
felicidade. (não apenas o amor, mas a beleza em seu sentido mais
geral).
Já
a técnica de obtenção da felicidade proposta pela religião na
verdade atrapalha a busca do homem: “sua
técnica consiste em depreciar o valor da vida e desfigurar a imagem
do mundo real de modo delirante”.
(p. 78). Apesar disso, a religião poupa os homens da neurose
individual.
Há,
nos dirá Freud, muitos caminhos que nos levam a felicidade, mas
nenhum que nos leve até ela com segurança.
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