quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Dissertação: A função social do humor



Sigmund Freud relatou, em sua obra "O mal-estar na cultura", a luta que o cidadão trava na sua busca para atender às exigências culturais e seu mal-estar por conta disso. Torna-se necessário, nesse sentido, valvulas de escape que aliviem esse mal-estar causado pelo conflito entre suas pulsões primitivas e os condicionamentos sociais.
O tema do humor enquanto função social de manutenção da civilidade foi pouco difundido; Platão e Aristóteles falavam do riso enquanto sinal de superioridade. Henri Bergson, em sua obra "O riso" (1901), aponta para as situações que nos fazem rir, o significado da comicidade e suas fundamentações; Freud, em Chistes (1905) e em O Humor (1927), tratou do cômico e sua relação com o inconsciente.
É importante ressaltar que essa função é estudada, no presente caso, ao nível social com base em análises psicanalíticas e não do riso enquanto fenômeno biológico.
Afinal, que função é essa? O humor revela um lado do homem de imperfeições e tem o poder de ridicularizar conceitos que até então eram respeitados ou temidos. Dessa forma, o humor, essencialmente subversivo e libertador, liberta momentaneamente o sujeito da rigidez das convenções sociais.
O humor sarcástico, por exemplo, traz consigo uma inversão de valores onde a hipocrisia nao encontra o seu lugar. O seu poder de aliviar o individuo do politicamente correto sem que isso caracterize um posicionamento sério por parte de quem faz o humor também é uma caracteristica: sua única responsabilidade é a de divertir e não de persuadir.
Além disso, o humor tem o obejtivo de entrerter o individuo e há evidências de que ele funcione, como disse Freud em seu O Mal-estar na cultura, como filtro de esquecimento do sofrimento, ao lado das religiões e das artes.
Segundo Sigmund Freud, o riso ocorre quando liberamos impulsos reprimidos em nosso insconsciente. O riso cumpre, nesse sentido, a função de equilibrar as emoções do individuo reprimido pela cultura. Seu mal-estar consiste no desequilibrio causado pela tensão entre os impulsos reprimidos e a sua falta de expressão; tal expressão nós obtemos no riso ou no ato de fazer humor.
Denise Maria Oliveira , em seu artigo "Pontos de vista sobre o humor: Pirandello e Freud" enfatiza a função do humor:"O humor pode ser considerado uma das funções de defesa que diferentemente da repressão, encontra um meio de converter desprazer em prazer". O humor, Segundo Freud em seu ensaio de 1927 O humor, não apenas significa o triunfo do eu mas também do principio do prazer: a rejeição da dura realidade e imposição do principio do prazer. Imposição, diga-se de passagem, necessária a sobrevivência de um eu sadio.
Não importa o quão hostil seja o meio o qual o homem vive, sempre poderemos fazer piadas sobre ele e tirar prazer das adversidades que o cerca, fazendo novas interpretações dos fatos enquanto rimos. Por isso, deve-se recomendar o humor como ferramenta capaz de livrar o individuo, mesmo que momentaneamente, das fontes de desprazer advindas da vida em sociedade.
Segundo Marilia Brandão Lemos Morais, em seu artigo "Humor e psicanálise", o que o humor transmite significa: “Olhem! Aqui está o mundo, que parece tão perigoso! Não passa de um jogo de crianças, digno apenas de que sobre ele se faça uma pilhéria!”.
Nesse aspecto, o humor é transgressor, pois desvia o sujeito da alienação social e o faz reduzi-la a uma boa gargalhada.
Não significa que quem não tem o dom raro e precioso do humor não irá satisfazer-se: o elemento catártico faz com que todos tenham acesso ao que humor é capaz de oferecer. Sendo raro, o dom do humor faz do comunicador humorista um libertário, que liberta o espectador da repetição cotidiana para fazer-lhe revelações prazerosas sobre o mundo que o cerca.
A grosso modo, ele cumpre um papel politico importante, não é atoa que no Brasil possuimos um palhaço eleito deputado Federal pelo estado de São Paulo, ele tenta fazer pela administração do seu pais aquilo que fizera quando humorista reconhecido. Francisco Everardo Oliveira Silva (o Tiririca) é um exemplo com o potencial de demonstração da verdadeira importância que o humor tem na vida do individuo. Se pudéssemos traduzir aquilo que eleitor brasileiro levou em conta ao escolher o palhaço como representante politico, diriamos que ele escolheu como representante também o humor.
Contudo, levando-se em consideração o humor em sua ampla função social de acomodar o sujeito a si mesmo, tornando possível sua distração enquanto desperta-lhe a alegria de viver em sociedade e de conviver com paz de espirito com as exigências culturais, levando-o a rir delas de vez em quando, pode-se conceituar a ferramenta do humor como um meio capaz de influir no âmbito social positivamente, equilibrando as relações humanas e tornando-as mais suportáveis; fica demonstrado, portanto, que o humor é um caso sério e que merece mais atenção.

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